Foto: Simone Giovine/AFP |
De 12 a 16 de
setembro, a Associação Floresta Protegida realizou a II Feira Mebengokré de
Sementes Tradicionais, na Aldeia Moikarakô, próxima ao município de São Félix
do Xingu (PA). Participaram indígenas do povo Mebengokré (Kayapó) de 25 aldeias
do Pará e do Mato Grosso, 48 Krahô vindos de sete aldeias do Tocantins e cerca
de 50 não-indígenas convidados. Mais de 50 variedades diferentes de sementes foram
apresentadas. Uma ação fortalecida pelas mesas redondas realizadas com temas
ligados à recuperação de sementes tradicionais e ao fortalecimento da autonomia
indígena por meio da valorização dos sistemas produtivos tradicionais.
Discussões sobre políticas públicas e programas de incentivo à produção
agrícola e à gestão territorial e ambiental, além de outras pautas ligadas à
causa indígena, geraram uma carta-aberta que nos próximos dias será direcionada
ao Poder Executivo, o que também foi feito na primeira edição da Feira, em 2012
(leia AQUI a carta de 2016 na íntegra).
Entre as pautas
da carta, elaborada em conjunto por todas as lideranças indígenas presentes,
estão a a PEC 215, o
marco temporal, o Pronara (Programa Nacional para Redução do Uso de Agrotóxicos), a PL 13.123 e a luta do povo Guarani Kaiowá "e a de todos os demais parentes que sofrem de forma mais violenta com a opressão do grande poder econômico sobre suas Terras e recursos, com a participação, conivência ou omissão dos três poderes da República".
O cacique Raoni, grande liderança indígena, agregou a todas as discussões palavras de encorajamento à luta e à preservação da cultura e das terras Kayapó. “Quando eu for, qual é o guerreiro que vai continuar no meu lugar?”, questionou na primeira noite. Em coro, os jovens que escutavam bradaram positivamente e levantaram as mãos em sinal de apoio. “Eu e Raoni nos encontramos e conversamos sobre a preservação dos territórios de todos os povos indígenas, pensando em nossos netos”, diz o cacique Getúlio Krahô. “Tudo o que vem do não-indígena está envenenado com agrotóxicos. O que vem da nossa roça é natural, faz bem para a saúde. Jovens têm que cuidar pra não perder”.
O cacique Raoni, grande liderança indígena, agregou a todas as discussões palavras de encorajamento à luta e à preservação da cultura e das terras Kayapó. “Quando eu for, qual é o guerreiro que vai continuar no meu lugar?”, questionou na primeira noite. Em coro, os jovens que escutavam bradaram positivamente e levantaram as mãos em sinal de apoio. “Eu e Raoni nos encontramos e conversamos sobre a preservação dos territórios de todos os povos indígenas, pensando em nossos netos”, diz o cacique Getúlio Krahô. “Tudo o que vem do não-indígena está envenenado com agrotóxicos. O que vem da nossa roça é natural, faz bem para a saúde. Jovens têm que cuidar pra não perder”.
Estiveram presentes
representantes de instituições como Embrapa, Imaflora, Funai, Sesai e ANA
(Articulação Nacional de Agroecologia), que contribuíram com a troca de
sementes, realizada na quarta-feira, 14 de setembro. “A troca é o coração da
Feira. Um momento de extrema confraternização por meio da maior tecnologia
indígena: a semente”, explica Terezinha Dias, pesquisadora da Embrapa. “A feira
permite que os agricultores acessem sementes que vão reforçar seus sistemas,
gerar experimentações e fortalecer o orgulho da herança tradicional”.
A Feira também
representou o encontro entre os parentes em celebração e afirmação à cultura
indígena, com apresentações diárias de danças e cantos tradicionais, nas quais
o sentimento de uno prevalece. A profusão de cores e sons, as batidas ritmadas
dos pés no chão de terra, as palmas, o coro dos cantos, os braços dados, as
coreografias ancestrais, as pinturas corporais, o artesanato, a alegria e a
força dos guerreiros e guerreiras marcaram os cinco dias de evento, assim como
a receptividade calorosa dos anfitriões de Moikarakô.
Os parentes
Krahô, precursores na realização das feiras de sementes e convidados especiais
dos Mebengokré – que este ano optaram por fortalecer o movimento interno de
conservação e produção sustentável entre as aldeias da T.I. Kayapó – apresentaram
cantos durante os metoros (festas) e na madrugada e organizaram sua tradicional
corrida de tora, que reuniu indígenas e não-indígenas na competição.
Para registro de
todos os momentos da Feira, uma equipe audiovisual foi montada com cineastas e
fotógrafos indígenas dos povos Mebengokré, Krahô e Kisedje. Fotos e vídeos
serão publicados nas próximas semanas nas redes sociais da Associação Floresta
Protegida e no blog sementeskayapo@blogspot.com.br.
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Texto: Ana Ferrareze
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